Vida. Brasília. Brasil. Não necessariamente nessa ordem. Não necessariamente nesses limites.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Quem sou eu?

“Oh homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo.”




Está aí uma das perguntas mais complicadas de se lidar. Quem somos. Ou o que somos. É a pergunta do ponto de partida para o auto-conhecimento. Vivemos em uma época em que as posses das pessoas são utilizadas para definir quem somos. Ao mesmo tempo, somos estimulados a trocar nossas posses sempre que algo novo surge. Assim, nossa busca pela identidade se perde em uma dicotomia:  ter ou não ter. O que no fim das contas não ajuda ninguém a saber quem é.

Existe todo o desconforto do questionar o que se é, e não ter a menor idéia de um ponto de partida para a resposta.. É o derradeiro momento em que se depara com uma espécie de vazio existencial. Por conta disso, se preencher de posses e se confundir com elas parece ser uma maneira confortável de evitar preocupações diretas com este vazio. Mas também parece uma maneira de ficar se distraindo, enquanto a vida passa e se espera pelo fim.




Gosto de pensar, na minha maneira leiga de entender o que diz a física, que tudo é de fato energia. E sendo esse padrão verdade, eu também sou energia. Como tudo está em transformação, na verdade sou um fluxo de energia. A energia que fazia parte de mim de ontem foi mandada para diversos locais, como o trabalho que eu realizei, os abraços que eu dei, as células mortas que ficaram pelo caminho, os restos dos alimentos. E hoje sou nova energia, que veio de outros lugares e da qual uma parte está indo para este texto que eu escrevo. Logo, eu não sou só energia. Mas um tipo de fluxo de energia que consegue definir para onde mandar mais energia ainda.

De repente faz sentido aquele dito popular a respeito do homem se tornar eterno/completo a partir do momento em que planta uma árvore, escreve um livro ou tem um filho. Vejo nisso um enorme lançamento de energia que irá manter um pouco da energia que a lançou. Uma espécie de eco repetindo a intenção original da pessoa, e que, como ambos são mera energia, se confundirá com a existência da própria pessoa. Se eu plantei uma árvore, e dediquei grande parte da minha vida para ela, entregando minha energia e esforços, quem irá me dizer que parte de mim não foi parar ali?


Perante a idéia de sermos energia moldando energia, ou melhor, energia direcionando mais energia, me parece adequado pensar que somos uma espécie de portal que tem a capacidade de direcionar para onde vai cada coisa que passa por nós. Nesse constante fluxo, o que nós mandamos se confunde com o que somos. Se eu mando boas energias, as pessoas começam a falar: “Taí, você é um cara bom”. O que fez de mim um cara bom não foi exatamente quem eu sou, e sim as coisas que eu faço, ou melhor as energias que eu mando.

Essas energias enviadas são feitas a partir do que pensamos e nos dedicamos a fazer. Antes de qualquer atitude, os fatos e possibilidades são consideradas pela nossa mente. Então ela é uma espécie de entidade controladora do portal. A maneira como olhamos, como sentimos e como interpretamos é que define como agiremos. Posso então não saber exatamente quem eu sou, já que isso parece impermantente, efêmero e variável demais; mas sei que é na minha mente que ocorre todo o processo do quem eu sou.

Para mim, o mais incrível de tudo é perceber o quão grande é a parte desse processo que está por nossa conta. Nossos hábitos, nossos costumes e nossa visão de mundo influenciam em todas as nossas atitudes e maneiras de pensar. Parece bobo, mas tentar ser otimista faz sim um grande sentido quando se busca a melhora na qualidade de vida. Porque se eu estou pensando o otimismo, parte de mim está emitindo este otimismo.

Dia desses, eu voltava de uma festa que durou a madrugada inteira. Já era de manhã, e eu estava extremamente mal humorado e incomodado com o sol na minha cara. A primeira metade do caminho foi repleta de xingamentos e pragas que eu lançava por ter que aguentar aquela luminosidade direta no rosto. Foi então que me deu um estalo. Eu não podia mudar o sol; e praguejar não resolvia nada, pelo contrário, apenas me afundava mais ainda naquele estado de mau-humor. Resolvi olhar para o céu com outros olhos, vendo que o azul estava bastante bonito, e que aquele calorzinho na cara poderia até ser agradável. Fiquei feliz por aquela manhã. Essa pequena mudança, mudou o meu dia. De repente eu fiquei alegre e alto astral. Passei de uma pessoa negativa para uma pessoa de bem com o momento e alegre. Cheguei bem humorado em casa, e tive boas conversas com meus pais e meus irmãos. Eu mudei quem eu era, ou quem eu “estava”, justamente pela mudança da mente.

Eu sei que o exemplo é bobinho mesmo, mas eu o acho incrivelmente grandioso. Porque ele mostrou que é possível adequar não a situação a si, mas si mesmo a situação, da maneira mais positiva o possível. E mais legal ainda: a medida que nos adequamos positivamente, nosso feedback se torna melhor, e a influência que exercemos passa a ser útil para beneficiar mais ainda o ambiente. É o Tostines vendendo mais por ser fresquinho, e sendo fresquinho porque vende mais.

Na minha visão, ainda é difícil responder completamente ‘quem eu sou’. Mas parte dessa pergunta eu sei responder: quem eu estou. E se eu ‘estiver’ de determinada maneira grande parte do tempo, sei que é mais ou menos assim que eu ‘serei’.

Porque eu sou aquilo que estou pensando e o que eu estou sentindo. E à medida que me controlo, eu posso ser aquilo que eu quiser.

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